sexta-feira, dezembro 16, 2005

[a calma navegação]

quando eu for de novo o rio
por entre vales de velhas montanhas
altas de 50 andares
entre os vales, eu o rio, a tempestade
voando baixo
em terrível ataque
eu nuvem preta de anjos vingadores
vingador dos vales calmos de montanhas
altas, dos cumes + altos
das + calmas cidades-fantasma,

hei de ser de novo rio veloz de leito escuro e limpo
de águas plácidas de tempestade.
hei de ser de novo
solícita estrela cadente em céu de estio
anjo menino de asas pretas
coração vermelho em chamas
como um avião em queda eterna
em chamas num vale de neve,

rio profundo de cama vazia
cama
de lençóis pretos macios,
de novo o rio feroz e da + doce
o rio veloz e da + calma
navegação.

sábado, novembro 12, 2005

an honest mistake

uma das coisas mais bonitas que existem talvez seja o controle. não o monótono controle científico, mas o monótono controle científico em seu doce viés chamado honestidade - uma coisa pensada de um jeito e que saiu desse jeito, sem desculpas. não a lei da previsibilidade científica, mas o encantamento estético das coisas em seus lugares;. que lugares são esses é o que vai de cada um.
a verdade, eu acho, é que a gente admira e se apaixona por pessoas que, muito além de moralmente controladas, sabem como manter o controle. especialmente sobre si mesmas. que põem suas coisas, boas e ruins, em seus devidos lugares. pessoas com crenças tão bem construídas que só podem estar falando sobre coisas em que acreditam, sem desculpas, ou que no fim lidam muito bem com suas próprias dúvidas. pessoas cujos gestos fluem, cuja postura parece quase sempre exatamente como deveria ser, tão natural e claramente, que parecem assumir de si pra si mesmas que, diabos, eu sei onde estou e o que eu estou fazendo. que sabem até que perder a cabeça de vez em quando pode ser bom, porque elas têm a preciosa habilidade de nadar de volta à margem e não se deixarem afogar no mar da insegurança.
nós admiramos e nos apaixonamos por pessoas que inspiram confiança, com sua vida própria, seus valores sólidos, sua presença de espírito, seu destemor, em quem nós sentimos alívio por poder acreditar, que nos resgatam da temível ameaça do desespero e nos oferecem uma vida sem traições. que podem até nos decepcionar, mas sem passar recibo por isso porque a fantasia da pessoa perfeita estava toda na nossa cabeça. essas são as pessoas que nós queremos ser. e às vezes nos tornamos idiotas ainda maiores por isso.
ser privado do controle é uma das coisas mais frustrantes que talvez a pessoa possa sentir. quem já perdeu a linha da pipa ou deixou queimar o bolo no forno sabe como é isso. e mesmo pra quem leva uma vida de impulsos - quando o pulo no rio escuro não é mais feito na fé, aí sim talvez o controle tenha se perdido. e aí sim o rio pareça mesmo escuro. quando você pensa que vai segurar o copinho descartável gentilmente e amassa o coitado, o pior não é amassá-lo, mas ter achado que ia apenas segurá-lo gentilmente - e então amassá-lo. e aí vai de cada um se perdoar. o que quase nunca acontece, já que a gente tenta se perdoar, segurar gentilmente o nosso ego, mas acaba amassando o coitado. e aí não tem fim. e, para quem experimenta ou passa a experimentar algo assim todos os dias, a existência das pessoas dotadas de controle deve ser uma maldição.
e o que eu penso é que culpa é um troço que a gente tem que botar pra fora, em vez de pra dentro. algumas pessoas - geralmente aquelas que admiramos e por quem nos apaixonamos - conseguem fazer um management bonito da culpa. não culpar o mundo e se eximir, mas estar tão certo de que aquele foi um erro honesto, sincero como a ciência, e então pô-lo no seu devido lugar - no de erro honesto. na estante dos erros, em vez de na gaveta das culpas. mas o que é um erro honesto, vai de cada um. da consciência de cada um de que está fazendo todo todo todo o possível pra não deixar vazar má-vontade. porque não há culpa na honestidade. e assim até o feio fica bonito, eu acho. e isso é tipo uma arte.

terça-feira, outubro 25, 2005

everything hits at once

há momentos em que a gente deseja que tudo o mais encolha quando estamos envolvidos com algumas pequenas coisas. ou com algumas grandes coisas. que o resto das preocupações, dos deveres cívicos, que o resto dos conflitos pessoais e globais, que as demandas diárias do nosso corpo e da civilização, que os engajamentos do mundo se resolvam enquanto a gente reza pra que eles se resolvam - para então nos dedicarmos a certas causas particulares, para que não nos pareça tão assustadora a idéia de que há tanto por fazer nessa terra. enquanto a gente acha que só pode fazer tão pouco. mas tem um negócio que diz que everything hits at once.
houve um tempo em que - eu estava certo - meu destino era morrer de amor. um momento em que era divertido brincar com a idéia de que tudo o mais se apagasse e só aquela luz se acendesse, de modo que essa fosse mesmo minha missão ------ viver para amar e eventualmente morrer de amor. ou escorregando no banheiro, valia também, desde que tivesse tido a chance de encontrar a paz naquele sentimento quando chegasse o dia. houve um tempo em que eu me sentia envolvido com essa grande coisa, em que eu não sabia não estar apaixonado, em que o meu medo era deixar de sangrar aquele doce recheio de bubbaloo que saía de meu peito, em que o resto do mundo não se apagava -- mas que ainda assim havia a luz. um tempo em que todos os meus poemas eram de amor, e que me inspirar em suas vicissitudes era como o meu dom.
claro. um idealista /como eu sempre achei que fui não podia dar margem ao pensamento de me render. um idealista existia para morrer pela causa, sem concessões. eu não concebia o sacrifício por mais nada além do amor. emprego, carreira, causas sociais, nada disso. e era como se tudo isso fossem distrações a me roubarem a energia. amar era tudo o que eu queria e o amor era o que eu sabia sentir de melhor. e eu o fabricava e fabricava e o guardava e guardava e - numa proporção menor - o usava e usava, como uma abelha e sua cera.
e no fundo, como uma abelha, eu não devia querer saber dos problemas do mundo, pois que minha única preocupação e dever deveria ser o ofício da cera. as guerras deveriam acabar. a matança das baleias deveria acabar. toda aquela coisa de camada de ozônio e crises econômicas e pandemia de ansiedade - nada dessas coisas deveria existir. no fundo, eu queria que o mundo me esquecesse, que não contasse comigo pra soldado. não haveria de haver causas pra mim, além do amor. não deveria haver nada que eu devesse compreender além de a mim mesmo o bastante, de modo que aquela cera fosse realmente resistente. de modo que eu soubesse o que era isso que eu estava entregando aos meus amantes.
e houve um tempo em que a minha roda da vida girava pela sorte entre ter e não ter onde usar a cera, entre ter e não ter aqueles amantes, entre me amaldiçoar em angústia ou me aliviar em delícia por conta de alguma fantasia com um grande amor. com a colméia em que eu fosse a rainha. sonhar com o grande amor me punha para baixo e para cima num mesmo ritmo. num ritmo que mantinha o meu espírito num estado sobre o qual eu possuía algum controle e alguma recompensa. num estado de equilíbrio. entre a febre de morrer pela causa romântica, encolhendo o resto do mundo, e o sonho alegre de ser a pessoa de alguém, querendo abraçar o mundo enorme para então dá-lo ao outro.
as fantasias com o grande amor eram o meu cérebro. controlavam da cabine o prazer e a dor, faziam contas de matemática e pintavam quadros. e SER o grande amor era a minha fornalha. porque, na expectativa pelo grande amor, eu tentava ser um grande amor eu mesmo. e então sabia que devia me entregar aos problemas do mundo de algum jeito. lutar pela paz, salvar as baleias e a camada de ozônio. ser um grande amor era a idéia por trás de ser um grande cara. o idealismo passava então pelo sacrifício. e como todo sacrifício é mesmo uma maldição, algumas vezes tudo cansava. o mundo me cansava. a civilização me cansava. mas ao mesmo tempo o amor, não importa o tanto de viadagem que essa sensação pareça carregar, sempre foi um bálsamo. porque me enchia a alma de beleza e, sem querer, no meio de todo o delírio, me obrigava a crescer. e assim eu olhava pro espelho e via um cara consciente, cúmplice e apaixonado ------ as melhores coisas que eu já me senti nessa vida.
mas aí a vida passa, as coisas acontecem, as luzes se apagam e se acendem e vice-versa, o tempo todo. e hoje há essa lacuna em mim. e eu tristemente sinto que talvez não seja um grande amor a encaixar-se nela. a roda da vida gira e meus olhos não brilham quando a casinha com o coração desenhado passa pela agulha. e não porque não seja em forma de coração essa lacuna. mas porque talvez o único coração a encaixar-se nela seja o meu próprio. e onde está o meu coração agora - é o que eu tenho me perguntado. onde está o meu coração?

domingo, setembro 04, 2005

sorrows



tehre's changes that never stray
false starts that draw the shine of rage

segunda-feira, agosto 08, 2005

the morning bell

tentei comemorar um mês sem posts com um post. queria dar esse presente. achei que era um bom presente, um mimo justo o bastante, a barra de chocolate wonka anual do pequeno charlie bucket. era uma comemoração afinal e, como na vida a gente comemora menos do que se sacrifica, achei que a comemoração valia o sacrifício - me sentaria e me esforçaria e poria em palavras alguma idéia perambulante em minha cabeça ou algum sentimento dando choques em meu coração. costuma ser um bom exercício.
mas afinal - eu não sentia que havia muito pra dizer naquele 3 de agosto, nada em especial que merecesse ser mostrado. eu perambulava pela casa como as idéias na minha cabeça, e pensava em que pensamentos eram esses que me ocorriam. que pensamentos eram esses que me ocorriam, que constatações que conexões que conclusões eram essas. o que era isso que eu queria botar pra fora? o que era isso de tão pungente em mim? o que era isso que eu poderia dizer? o que era isso que eu tinha pra dizer? alguma teoria? alguma sensação? como tinha sido o meu dia? que lições aprendidas? quais as novidades? no que eu acreditava? quais as coisas curiosas do mundo? o que eu amava e ,principalmente, por quê?
e nada. as palavras não vinham e pior - as idéias não vinham. as opiniões não vinham, só as queixas. a sabedoria não vinha, só o cansaço. como se, toda vez, eu abrisse a boca e dela saísse apenas um rangido de roda-gigante enferrujada. o que tem sido mesmo uma sensação recorrente - eu tenho me sentido essa roda-gigante, com a maioria de suas luzes vermelhas ainda acesas, mas enferrujada. queixosa e cansada.
e então aconteceu que o parque não abriu em 3 de agosto. ou abriu - por 10 minutos. me concentrei tanto em chorar minha miséria, que não consegui ver como mais que uma extravagância insistir no mimo dum post de qualidade. e então achei melhor continuar calado. sem ranger. e não insisti. cotumava ser um bom exercício, mas eu não exercitei. "não há assunto, não há assunto". e lembro de ter ido dormir nesse dia com uma ominosa resignação. como um desmemoriado que vai dormir, suspira e reza incrédulo para acordar lembrando-se de tudo ou pelo menos de qualquer coisa no outro dia.

e no fim não houve presente na comemoração de um mês sem posts. não houve o exercício, só o cansaço. não houve o sacrifício, só a queixa. não houve o mimo, só a tristeza. e eu fico pensando em o quão injusto e covarde foi deixar o pequeno charlie sem seu chocolate wonka esse ano.

domingo, julho 03, 2005

daphne descends

outro dia eu tava pensando. em como coincidem assustadoramente os momentos em que a gente menos se sente possuidor de alguma coisa com aqueles em que a gente mais tem medo de perder o que tem.
acho que daí vêm a inveja, a soberba e o ciúme. pelo menos os meus.

quarta-feira, junho 01, 2005


Posted by Hello eric fischl. [bedroom scene #4 - you leave your lover to answer the phone]. 2004.

leave your lover& answer the phone-
o diabo é que às vezes é preciso.

embora o mais mágico disso tudo pra mim seja mesmo não estar esperando
ao pé do tal telefone.

domingo, maio 08, 2005

denise patrícia olhou uma depois da outra para as quatro ou cinco páginas de linhas escritas e riscadas e enfiou-as de volta dentro do caderno. ralhou consigo bufando como ralha um diretor com o mau ator.
denise patrícia irritava-se com a falta do que dizer e ainda mais com a falta do que inventar. se perguntava e se perguntava onde estavam as histórias, simples e honestas, complexas e profundas, onde estavam as pessoas das histórias, os vencedores e os castigados, onde estavam as cenas de bela poesia muda e os roteiros de meandros surpreendentes. denise patrícia pensava e pensava, mas seus pensamentos apareciam como esqueletos sem carne e sem sangue. esqueletos dançantes sem coração e sem cérebro que a punham assombrada sempre que se anunciavam em frases na folha diante dela. denise patrícia parecia não conseguir mais espantar os esqueletos, parecia não conseguir mais com suas histórias matar o que desejava.
com olhos de vago desgosto, olhava pro caderno fechado, sonhando. olhava a betty boop sensualmente surpresa com as bolhinhas de sabão estourando em seu traseiro na capa, sonhando. e lhe voltava à boca o sabor secreto e proibido de ver o caderno tornado uma daquelas relíquias literárias fetichistas, o caderninho de estimação da garnde grande escritora. e se perguntava quando quando? mas as grandes histórias não vinham; vinha apenas o peso dos sorrisos dos leitores; pesavam como gatos pesados como trens pesados em seu colo o eco de suas vozes, satisfeitas, e a auspiciosa adivinhação das palpitações lisonjeiras que provocaria com cada um de seus parágrafos. e denise patrícia sentia-se pungir, porque esse desejo sempre lhe pareceu a declaração da derrota final.
tomou na mão o caderno e o folheou devagar com o ar abalado de quem ouve uma canção triste, relendo e fatalmente procurando - nos antigos contos acabados, um estilo; nos inacabados, boas intenções; nos desenhos rabiscados, projeções espirituosas de seus humores; nas suas confidências, sentimentos selvagens. qualquer feito com seu nome escrito ou, pelo menos, mesquinhezas valorizadas com a posteridade.
mas o que denise patrícia encontrou foram frustrações. comparou-se com a denise patrícia do histórico de seu caderno, com uma antiga denise patrícia fudida mas esperta e senhora de suas fantasias, com uma denise patrícia que já sentia não existir mais - e se frustrou. o que encontrou foram as novas sementes plantadas que se recusavam a crescer em árvores frondosas e coloridas como as árvores de antes. e denise patrícia voltava e voltava ao pomar ultimamente, checando e checando as malditas sementes. e quando dava por si chorando como agora sobre os brotos mal saídos, se maldizia com a desgraça de um jardineiro incompetente.
fechou o caderno chateada consigo, principalmente por andar tão chateada consigo: de alguma forma, sabia que não era justo. olhou pra fora da janela e suspirou, entre melancólica e aborrecida. queria fechar os olhos. queria esquecer as histórias por enquanto. queria esquecer a recompensa que eram elas. queria ir passear na beira do lago. queria ir passear na beira do lago com jorge, tomar sorvete e ver o pôr-do-sol do dia quente ao lado dele, deitar na grama e receber dele beijinhos na barriga. ai. ia ligar pra jorge. ia tomar coragem e ia ligar.

terça-feira, maio 03, 2005

it's not up to you

tem uma coisa que é o anseio e outra que é a ansiedade. o anseio = o desejo. a ansiedade = o desejo pra agora. o anseio = a esperança. a ansiedade = a urgência. o anseio = a boa intenção. a ansiedade = o desrtmabhel destrambelhamento fatal.
mas ambos afinal anseio e ansiedade são mais normais do que se imagina, eu acho. pra desespero dos muito cínicos e dos muito cool, respectivamente. o foda é mesmo quando se toma um pelo outro, especialmente o segundo pelo primeiro - e você começa a achar que superestimar a nobreza de seu inconformismo, se descontrolar com seu excesso de controle e inflacionar o valor de seus esforços é justo porque você só quis o mehlor. bummer bummer bummer.
anseio e ansiedade anseio e ansiedade são diferentes estados de espírito que motivam conquistas, eu acho. com resultados quase sempre diferentes , é verdade, onde o limite quase sempre está entre se você quer o seu capturado vivo ou morto.

domingo, abril 03, 2005

window paine

é isso.talvez não haja outra maneira - é preciso começar de algum lugar. quando você ouve a inveja pondo a mesa pra comer sua cabeça no jantar, essa possivelmente é a hora de pensar se não vale a pena tirar a fé de cima da estante, dar uma espanada nela, pô-la dentro do peito e começar imediatamente a acreditar que há um caminho que se pode seguir pra ser alguém melhor.
mas o otimismo às vezes parece tão banal. tão em si medíod medíocre. como se apenas acordar de manhã pronto pra desacreditar toda a humanidade fosse a forma mais justa de questionar o que vai mal e de parecer que se entende que pouco vai bem. o otimismo talvez tenha sido rebaixado na escala de valores humanos legais exatamente por ter sido associado, sabe-se lá por quê, à espera prostrada por que algo bom aconteça e that's it. comprar a idéia de que as coisas podem dar certo, a despeito de todo o cinismo incrustado na face da terra, não é simples. eu acho. .a crença de que um grande câncer secular, alimentado a cada geração no coração das pessoas, pode ser combatido apenas com o melhor que você pode fazer hoje às vezes soa oh tão inútil e desmotivamnte.; tratada com uma preguicinha que não deixa perceber o mundo como mais que uma pilha de casos perdidos. e o resultado é essa massa de pessoas tristes infelizes por dentro angustiadas por não conseguir acreidtar, sentir e agir da mesma maneira, e na pior das hipóteses estacionadas na mediocridade e na inveja, morrendo de medo de continuar em frente. de fazer, nem que a pé, o resto do percurso até seus sonhos.
e não há não há não há como negar que parecer tentando algo diferente é uma ameaça grande demais pro nosso orgulho. que talvez já nem esteja nos deixando mais tão orgulhosos assim. por isso o importante talvez seja vencer esse temor em ser alguém diferente, ainda que mais satisfeito. antes de entrar em pânico vislumbrando o terrível diagnóstico, pegar o telefone ligar pro médico e marcar o diabo da consulta . acreditar e dar o primeiro passo. o pequeno primeiro passo - aquele que há dias, que há anos, a gente teve medo de parecer tentando dar.

sábado, março 19, 2005

yeah!


Posted by Hello [bear boy]. cause i'm good like that. yeah.

the perry bible fellowship.
tx, raphael.

domingo, março 06, 2005

a razão:

as the world goes 'round,
it's got me thinking
that the things i want
just keep me sinking down.

o caminho:

1) please keep moving,
better keep moving,
don't fall asleep at the wheel.

2) everyone,
everyone,
everyone i know,
take control.


3) i'm not jerking,
i won't hide,
yeah, i'm ready
MEET ZE MONSTA tonight.

quarta-feira, março 02, 2005

desfazendo-se dos fones de ouvido ao mesmo tempo em que se enfiava num sorriso constrangido com um pedido de desculpas pela distração, eulália pôde afinal entender o que a moça do guichê exigia com tanta impaciência.
- a identificação, querida. esse tipo de cheque você só desconta com um documento de identificação.
"como se a princesinha achasse", eulália antevia o que mais iria na reclamação cheia de abuso da moça do guichê, "que saber a direção em que a fila anda é tudo o que é preciso saber sobre bancos pra se sentir no direito de não dar ouvidos a mais nada. pois isso aqui é um lugar pra gente séria, querida. e com pres-sa."
eulália pretendia ter aquele dinheiro na mão até as 11, de modo que pudesse chegar em casa antes do meio-dia e encontrar seu irmão ainda de saída pro trabalho. pagaria a ele enfim a última prestação da dolorosa dívida dos livros pro curso, almoçaria o que 10 minutos lhe permitissem almoçar, apanharia com ele mesmo uma carona até o obscuro laboratório de fotografia onde deveria encontrar do tal filme especial e à uma estaria finalmente no apartamento de eric como combinado. ou mesmo antes - na companhia de eric, tanto melhor. dali então iriam juntos rumo à praia, registrar a coleta de amostras de tecido da baleia morta trazida ainda viva pela maré cheia aquela madrugada. juntos, eulália e eric, flutuando, fotografando num idílio fantástico, perdidos e corretos numa troca de sorrisos profissionais feitos docemente cúmplices, um gigante de 10 metros caído aberto como uma sardinha aberta, suas vísceras se amontoando fedidas na areia. a baleia morta, enquanto eric dizia "a baleia morta" ao telefone, soava como tantas outras visões de apelo covarde ao coração de eulália - a queda de um cruel ditador, um filho que desse um meigo recital no auditório da escola. e eulália empertigava o espírito. para marchar na rua, para aplaudir calorosamente o seu pequeno garoto pianista.
olhou outra vez para a moça do guichê e em seu rosto cansado de clientes distraídos percebeu, não sem certa compaixão, a tristeza de alguém para quem a baleia morta na praia talvez não passasse de um monte grande demais, absurdo até mas desinteressante, de carne podre. surpresa consigo por se perceber crendo no óbvio - que, estudando ali os rostos atrás dos demais balcões, fosse encontrar humores efetivamente treinados, oprimidos pela rotina, desapaixonados e tão dispostos a cansar-se -, eulália esticou-se intrigada para ver o moço do guichê ao lado; ele de sua parte lhe pareceu menos orgulhoso pela intolerância de que devia armar-se e mais indefeso contra o seu poder. outra vítima, eulália pensou horrorizada, de cuja índole se apropriara a vulgar praticidade do lugar. e eulália rendeu-se então à piedade, desse e da moça à sua frente, e do outro moço no guichê do outro lado com sua crise repentina de tosse e quis ser uma baleia morta, aberta, que pulasse fora da fila e dançasse, promovendo um espetáculo, fazendo truques encantadores com as tripas, comandando um circo com banda, malabaristas e corda-bamba para a gente séria e com pressa ali reunida.
mas enquanto a moça do guichê fazia novamente sinal, dessa vez com o dinheiro novo e limpo esticado na mão para entregá-lo, eulália foi aos poucos sendo resgatada do delírio pela certeza de que seria não mais que um estorvo como baleia, um ônus de muitos quilos ao já previsto fardo diário do trabalho no banco, uma tentativa importuna de alegria. sabia na verdade que, não fosse por eric, nem a maior baleia do mundo com as entranhas mais fedidas, os pôneis mais fofinhos trotando em carrossel ao redor - nem a tarefa mais árdua como fotografar a maior baleia do mundo com as entranhas mais fedidas pareceria aquele monte venturoso, de cujo topo se divisa de olhos fechados a felicidade dentro de si.

domingo, fevereiro 13, 2005

go


Posted by Hello [the red & grey v-coat]

devotar-se é ter fé. fiar-se no mistério, eu acho. saber que a resignação não é uma desvantagem quando se acredita nas razões do outro.
devotr-se, euy acho
devotar-se talvez não seja morar nessa casa vazia com quartos vazios, perder-se de si. mas, sobretudo, entender do que exatamente é preciso abrir mão. às vezes nem é de si, mas é - que fatalidade - justamente do outro.

domingo, fevereiro 06, 2005

village idiots

depois de ver a vila, de shyamalan, eu mal podia crer que o filme tinha realmente sentido.
ia acreditar que o filme era tão bizarro que não orecisasse fazer as pessoas sentirem-se v´tiimas de uma má piada
logo depois que vi 'a vila', do m. night shyamalan, ainda ligeiramente encantado e me divertindo, enquanto tomava distraído a sopa do jantar, no processo de juntar e desjuntar novamente as peças que compunham o twist da trama, foi inevitável a sensação de que o meu cérebro , com um olhar desgostoso e surpreso de reprovação, jogava de volta pra mim como com uma espanada de vassoura a ofensa que eu lhe fazia. por um momento pareceu ultrajante demais que o filme tivesse feito sentido pra mim, e não tido nenhuma graça - apesar de ser motivo de riso - pra mais ninguém com quem tive a chnace de discutir a respeito antes da minha ida ao cinema. mas como?
incerto como eu andav sobre tudo, fiquei incerto sobre isso também : seria, deus, eu? seria a triste constatação do cair no gosto pelo pouco? a mediocridade chupando minha cabeça como um picolé? teria eu deslizado para dentro duma decadente no-go-area?
bem, é o tipo de receio mesquinho que, à primeira vista, supõe a presunção dum gosto apurado que periga se perder. . mas nesse caso nem era o meu pretenso bom-gosto, mas as minhas prórpias certezas que eu estava questionando. naquele momento, o discreto sinal da dúvida sobre confiar no meu p´roprio ponto de vista virou um alarme ensurdecedor. com luzes girando. uma tussidazinha intelectual era um assustador sintoma duma tuberculose espiritual. eu acreditava , e
eu acredito que, uma vez seguro de si, de seus valores, de sua verdade, não há o que temer. não há o que a novela, a música romântica no rádio, o big brother, o filme do supercine, a revista caras da semana, nada desse mundo bizarro possa realmente ameaçr ou desonrar. talvez seja só perda de tempo. mas não há porque não sair ileso.
a minha desconfiança de mim me conduzia à beira disso. das catarses alarmistas e falsas e inoportunas.
ao medo de não estar saindo ileso. de ter sido corrompido por alguma força massificante invisível que começava me fazendo ignorar a falta de sutileza cinematográfica do shyamalan e me levaria deus sabe aonde, à insensibilidade brutal, à ignorância do progresso científico, à insegurança irremediável e irreversível, ao eterno será-que-eu-não-estou-vendo-?
algo que me deixaria cego cego cego cego cego como a moça do filme
que não me deixaria ver o que havia de reprovável e oh drama drma drama.

um sentimento indigno de alarme , afinal.
aos poucos, fui me livrando da culpa por ter simpatizado com o filme, como simpatizei com tantos outros de que eu nem me lembro mais. passou. era só um filme. que me trouxe coisas positivas. diversão, com um pouco de culpa, mas diversão. o negócio é que eu não costumava sentir essa coisa de culpa pelos momentos de diversão clandestina nas no-go-areas. e não sinto., e esse post talvez seja sobre a culpa por perder a bravura de não sentir culpa.
, na verdade, até com bastante convicção achei que,se fosse professor de sociologia no colégio, faria uma sessãozinha de 'a vila' quando fosse falar sobre mitos e alienação. quer dizer, tem 'o senhor das moscas' também, aquele do grupo de meninos náufragos habitando uma ilha deserta, mais cult, com menos desvios artísticos;; mas esse já é o clássico acadêmico para mito-e-alienação. e,bem, eu não me oporia à idéia da sessão dupla. quem viesse pros dois, ganhava 2 pontos.
mas aind assim. pra mim, o filme valera a pena de um modo geral, mas não conseguia saber bem se havia um motivo médio pelo qual não deveria valer. e hhmhmm a bit curious pra saber se era mesmo possível estar sozinho na minha simpatia . google , "'the village' reviews". e deu na mesma,. gente cansada das guinadas, o escrutínio do roteiro picotado, uma idéia com potencial presa num filme bobo. há a simpatia, porém , em um review 3-estrelas aqui outro ali - 'bons atores', 'câmera habilidosa', 'direção de arte impecável', 'creepy moments pontuais'. mas uma das coisas com que mais simpatizei em ' a vila' no momento, nenhum 3-estrelas que vi também achou tão digno : aquilo a que o filme leva a pensar. a pequena porta do pensamento que se abriu. como em 'corpo fechado', a gênese do super-herói, que considerei, pobrezinha, uma idéia tão subestimada. é o tipo de filme que, tendo um sentido interessante, ganha um sentido de existir. um negocinho para além do entretenimento bem-feito-mal-feito.
visitsm
mas hm;
visitando e visitando, se vai a lugares.
num deles, enquanto se discutia os méritos de shyamalan como roteirista, houve num fórum alguém questionando o propósito de se criar uma raça alienígena que cruzava o espaço sideral mas sequer era capaz de girar a maçaneta para cruzar uma porta. 'sinais'.
post após post após post. até que esse apareceu, e ficou por aqui:

'your argument about how the aliens can travel thru space but can't open doors is stupid and typical of how americans think.... we humans can go to space, build nuclear missiles, supercomputers and aeroplanes yet we can't even cure the common cold? maybe the aliens have their alien kuro5hin and running this thread right now..! the point is, you cannot look at things from a microscopic (i.e. earthly) point of view. opening doors and interstellar travel are unrelated skills which need not be correlated.'
[by WreckingCru on Wed Sep 8th, 2004 at 01:25:22 PM EST]

opening doors and interstellar travels are unrelated skills which need not to be correlated.
viagens interestelares x abrir portas. isso me pareceu tão especialmente simbólico.
logo depois de brilhantemente estúpido, é claro.

sábado, janeiro 29, 2005

the ineffable me:


há as coisas inefáveis.
no dicionário, as que as palavras não alcançam ou aquelas extremamente inebriantes. e ,mais propriamente, as mesmo fadadas ao inexprimível de tão encantadoras. como o artista antes conhecido como prince.

talvez não seja uma boa circunstância quando se tenta manter um blog, essa de sentir a inefabilidade das coisas tanto tanto tanto. e - o mais triste - sentir essa evil inefabilidade, esse simples não ter ppalavras, e nem sentir o encanto..,
- essa triste incapacidade de ser a moça tranqüila tecendo fio por fio o que parece ser a) uma colcha.,b) um xale, c) um suéter. a moça ali, no sorriso tranqüilo da sua tranqüilidade, na cumplicidade do seu olhar para com o próprio trabalho, senhora desse segredo tão singelo como um mimo; só ela sabe enquanto tece serena fio por fio o que aquilo vai se tornar.,
e eu quero as palavras. eu quero a)uma colchab)umxalec)umsuéter.
talvez não seja um bom momento, esse de pedir pra falar quando tudo vai embolado na cabeça. the words coming out all weird. esse dessa inefabilidade perniciosa, que não é a quietude da moça nem a sutileza do fio por fio. é um alvoroço, um emaranhado de carretéis, umas mãos tremendo, um anseio por terminar duma vez esse diabo de costura.

mas bom. seria bom apenas a sensação da infeabilidade inefabilidade. tocar o sublime. quem precisaria de palavras?
por isso, bem, agora, pra mim, as palavras seriam um consolo. como uma beleza química, a beleza inefável que eu deveria apenas sentir, acachapado, em silêncio - mas sintetizada. um espelho pros meus sentimentos. e não muito para envaidecê-los - mas para que pudessem ver melhor quem são. fugir do monocórdio: tudo-bem?-tudo-médio. e dar um revamp nesse maldito tudo-bem?-tudo-médio. as palavras, uma liçãozinha cronicizada que seja, uma rima simples, além de realizações recompensadoras, são um registro fino, , wishlists passadas a limpo. costumavam ser o prêmio dos meus fracassos, dos dias de chuva. um versinho pruma desilusão - e então eu acreditava no sentido dela.

mas a evil inefabilidade
a evil inefabilidade é não conseguir exprimir nem a confusão. não acreditar que seus sentimentos estão ali naquele papel na forma de um monte de rabisco. que,então,bem,é, possivelmente, o que vai rolar como a oferta major disso aqui. uma tempestade de rabisco. the ineffable me.