sábado, novembro 12, 2005

an honest mistake

uma das coisas mais bonitas que existem talvez seja o controle. não o monótono controle científico, mas o monótono controle científico em seu doce viés chamado honestidade - uma coisa pensada de um jeito e que saiu desse jeito, sem desculpas. não a lei da previsibilidade científica, mas o encantamento estético das coisas em seus lugares;. que lugares são esses é o que vai de cada um.
a verdade, eu acho, é que a gente admira e se apaixona por pessoas que, muito além de moralmente controladas, sabem como manter o controle. especialmente sobre si mesmas. que põem suas coisas, boas e ruins, em seus devidos lugares. pessoas com crenças tão bem construídas que só podem estar falando sobre coisas em que acreditam, sem desculpas, ou que no fim lidam muito bem com suas próprias dúvidas. pessoas cujos gestos fluem, cuja postura parece quase sempre exatamente como deveria ser, tão natural e claramente, que parecem assumir de si pra si mesmas que, diabos, eu sei onde estou e o que eu estou fazendo. que sabem até que perder a cabeça de vez em quando pode ser bom, porque elas têm a preciosa habilidade de nadar de volta à margem e não se deixarem afogar no mar da insegurança.
nós admiramos e nos apaixonamos por pessoas que inspiram confiança, com sua vida própria, seus valores sólidos, sua presença de espírito, seu destemor, em quem nós sentimos alívio por poder acreditar, que nos resgatam da temível ameaça do desespero e nos oferecem uma vida sem traições. que podem até nos decepcionar, mas sem passar recibo por isso porque a fantasia da pessoa perfeita estava toda na nossa cabeça. essas são as pessoas que nós queremos ser. e às vezes nos tornamos idiotas ainda maiores por isso.
ser privado do controle é uma das coisas mais frustrantes que talvez a pessoa possa sentir. quem já perdeu a linha da pipa ou deixou queimar o bolo no forno sabe como é isso. e mesmo pra quem leva uma vida de impulsos - quando o pulo no rio escuro não é mais feito na fé, aí sim talvez o controle tenha se perdido. e aí sim o rio pareça mesmo escuro. quando você pensa que vai segurar o copinho descartável gentilmente e amassa o coitado, o pior não é amassá-lo, mas ter achado que ia apenas segurá-lo gentilmente - e então amassá-lo. e aí vai de cada um se perdoar. o que quase nunca acontece, já que a gente tenta se perdoar, segurar gentilmente o nosso ego, mas acaba amassando o coitado. e aí não tem fim. e, para quem experimenta ou passa a experimentar algo assim todos os dias, a existência das pessoas dotadas de controle deve ser uma maldição.
e o que eu penso é que culpa é um troço que a gente tem que botar pra fora, em vez de pra dentro. algumas pessoas - geralmente aquelas que admiramos e por quem nos apaixonamos - conseguem fazer um management bonito da culpa. não culpar o mundo e se eximir, mas estar tão certo de que aquele foi um erro honesto, sincero como a ciência, e então pô-lo no seu devido lugar - no de erro honesto. na estante dos erros, em vez de na gaveta das culpas. mas o que é um erro honesto, vai de cada um. da consciência de cada um de que está fazendo todo todo todo o possível pra não deixar vazar má-vontade. porque não há culpa na honestidade. e assim até o feio fica bonito, eu acho. e isso é tipo uma arte.

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