domingo, junho 29, 2008

igloo

o nome me apareceu em sonho. roadkill. rooooadkill. e era um bom nome. quando abri os ohlos, não questionei o cabimento nem o que representava. não lembro do sentimento com que acordei, não lembro bem de onde o nome veio. o vi no ar somente, escrito feito um halo gasto a flutuar sobre os meus posts, como se tivesse sempre estado ali, como se fosse natural. eu assenti como um bebê índio, filho do inconsciente.
outros nomes já me apareceram em sonho, assim como outras coisas, que eu também resolvi aceitar. não sei. aceitar as coisas vindas dos sonhos é talvez como se reservar uma surpresa catártica para o futuro; como receber e guardar agora uma foto de alguém que você não conhece e só vai conhecer tempos depois. e então você conhece e aí está-- você entende por que manteve aquela foto.
e aí que hoje eu me dei conta. acordei há oito horas e desde então dei poucos passos para além desta cadeira preso ao computador como houvesse tirado
o telefone do gancho fugindo do que eu TENHO que fazer.;;;;; (me entregando a essa condição de não se importar com o efeito de uma estupidez dormente e raivoso de braços cruzados e testa franzida na neve perdido em paisagem de sonho onde o céu lavanda relampeia, andando entre veados carregando diamantes coloridos presos nas galhadas correndo em câmera lenta ao som de um pedal duplo de drum machine--------há dias ouvindo "pyramids", me sinto num estado perene de sonho. e eu ouço esse disco depois de uma ouvida e outra depois dessa e então outra, e eu me sinto livre preso nessa repetição.
nesse ambiente etéreo e infernal. sem precisar fazer mais nada.

["Pyramids", Pyramids, 2008]

)
e dentre as voltas voltas perseguindo o meu
próprio rabo, voltei para o meu pr´oprio blog e li ele de novo --- em parte. li algumas coisas caixa de fotos velhas e vi -- este é mesmo um blog sobre alguma coisa. este é um blog sobre A FUGA. é esse o rosto naquela foto de um estranho que eu guardei. e não é um padrão muito velado, é até fácil perceber. este é um blog sobre a fuga. cada post é sobre ficar
esperar
esquecer
fingir
ou partir.
e depois de ler e ler os posts, subindo então
em suspense a barra de rolagem, estava lá no topo, como se fosse um novo halo luminoso --- roooooadkill.

terça-feira, junho 24, 2008

we will revolt

lembro da cena do piquenique promovido por julia em "1984", quando ela , tentando confortá-lo ---e confrontá-lo, dizia a winston (que mal podia, idealista e paranóico, acreditar no cinismo da nova parceira diante de todo o horror do sistema) que era preciso respeitar as leis menores de modo a conseguir burlar as maiores. acho que foi assim. que era preciso aquiescer ao que você deve fazer, suportar a mesquinhez da rotina produtiva, que você pode usar a máscara de cidadão regular de modo a voar sob o radar, não ser apontado pelo grande-olho em função de suas diferenças e ent~ao subverter a coisa toda por detrás da aparência.
fazer o papel faz parte do idealismo------ em algum ponto de eu-em-crise acho que vi isso como uma verdade, eu fui julia no piquenique depois de trepar com winston. percebi que não se trata de não ceder nunca, mas caminhar sobre as brasas em direção ao que se quer. e isso pressupõe uma visão assustadora do mundo, de que o mundo é um lugar de renúncias. mas só é assustadora, eu imagino, porque a gente pode pensar sobre isso e ver como a gente deseja demais e possui tão poucos recursos, e que existem caminhos fáceis em demasiado pruma vida que é, no fundo, tão difícil.
mas em alguns momentos eu quero acreditar que a vida é fácil, e que os caminhos é que são difíceis. e resolvo fazer o que há de ser feito, como um trabalho de teoria da literatura II para a próxima semana, ha fuckin ha. mas tenho quse certeza de que isso parece correto poruqe não consigo pensar em uma fuga realmente efetiva, e não me disponho a tentar. olho ao redor, escuto minhas músicas, leio meus livros, escrevo minha história, vou a esse a aquele lugar na sexta-feira --- e onde está a verdadeira fuga? o que é isso que eu faço que redime eficazmente o aborrecimento? por que depois de dizer (tanto faz) sim ou não a esse trabalho de teoria da literatura II , outros trabalhos virão? por que eu me sinto tão a parte mais estúpida de julia?

sexta-feira, junho 20, 2008

denise patrícia segurou cansada o travesseiro com dois braços o seu travesseiro com o cheiro íntimo do sono, o branco com lisases de sua romântica roupa de cama, a espuma revelada pela boca aberta da fronha como displicente nudez de uma pele sagrada, de um amante, que denise patrícia tocou com as mãos de uma primeira carícia vacilante -- ela abraçou o travesseiro como o corpo de um homem e afagou suas entranhas com os dedos deslumbrados pela sensação a mão animal sob a terra pelo cós daquela calça. o conforto de um perfume secreto tão perto de seu rosto pareceu surpreendente. ela mal acreditava em seus sentidos, no prazer de oferecer um toque a um tronco macio que o permitisse; denise patrícia mal acreditava no poder de haver um volume que envolvesse com um cuidado muito cúmplice contra seu peito enquanto via no teto do quarto quente e morna um filme como visto a dois por dois recentes namorados.