tenho tido ultimamente essas visões, que não são bem como sonhos. nem como sonhos acordados. na verdade, já faz um tempo que mal me lembro de meus sonhos. e não me lembrar de meus sonhos é uma coisa particularmente ruim, para mim acostumado a ser guiado pelas noites depois dos mais diferentes dias, rumo a qualquer episódio onírico sempre sempre muito mágico-- como se fosse o sono um perfeito filme de perturbadora aventura, onde o tesouro sempre sou eu mesmo, o meu entendimento sobre mim, brilhando como moedas de ouro quando desperto sob o sol do outro dia; o sono é um perfeito entrar numa wallstreet fantástica e tratar de negócios com meus inflacionados desejos secretos;. e ,depois de um sonho, acordar na realidade é como estar indo dormir de novo, para dentro de pequenos sonhos vulgares do dia-a-dia, de delírios de febre, de sonhos gentis em que eu levito ou de pequenos pesadelos. geralmente de pequenos pesadelos.
é no meio desse dormir para fora que me ocorrem as tais visões, suspiros com imagens flashes dos sonhos noturnos presos bem no fundo de minha cabeça, que já não me visitam mais como deviam e que minha insônia diurna precisa então capturar---- são flashes mas são flashes volitivos, cenários arbitrários inspirados num desejo interior, meu eu secreto insistindo em ser compreendido - não mais, porém, pela desenigmificação dos sonhos noturnos, e sim por aquele desejo, por querer projetar-me para lá,.
e essas visões são visões sempre de desbravamento, em meio a uma floresta mítica de árvores gigantes; visões de desbravamento marítimo, navios de variados portes, a bordo dos quais me alço em oceanos virulentos, em missões como caças a sereias e descobertas de novos continentes. tudo me atinge enquanto meus olhos se abrem e fecham, muito rapidamente, e me acho ent~ao inteiro impregnado com o cinza de chumbo do mar e do céu, das tormentas que assolam minhas viagens, com o meu coração em chamas no coração da escuridão, os homens correndo ao meu redor, a tempestade passando por dentro de mim, meus olhos injetados enquanto tenho nas mãos algum cordame de vela, lutando em nome da sobrevivência.
e então agora tudo é meio diferente. -->fugir<--- costumava ser meu anseio secreto e também meu anseio manifetso, a resposta do código em meus sonhos, lúcidos ou não. fugir mais como um desaparecer, um renunciar a quase todas as ambições tontas da vida; isso parecia algo a se fazer. mas agora eu sou um desbravador em novos e constantes relâmpagos de desejo durante o dia. um caçador, um homem que se vislumbra necessariamente em meio à água turbulenta --e persevera. que escapa da vida e ainda luta por ela.----- e só o que ainda não me consta mesmo é o jeito como a história que essas visões contam, uma hora, vem a terminar.