eulália voltou para a cama com o corpo quente de ansiedade e levantou-se novamente. passou a noite sonhando que matava golfinhos com um arco-e-flecha, e o terror vívido do cheiro salgado da morte e do mar, que, culpada, triste e resignada, pintava de sangue de dentro de sua canoa, a fez despertar nauseante de manhã. alimentou os gatos ainda ouvindo o choro dos golfinhos sendo perfurados, mas preferiu preparar o café dessa vez com a tv desligada. a lembrança em sua cabeça, impregnada de tão violento apelo sensorial, era um filme que não podia ser ruim, e menos pela qualidade perturbadora de suas imagens de filme forte que pela pertinência velada de sua mensagem. eulália sabia que só precisava começar a se perguntar.